terça-feira, 9 de março de 2010

Resenha de Susana Lins sobre o romance "O eclipse de Serguei"

A SEGUIR A RESENHA DO ROMANCE "O ECLIPSE DE SERGUEI", QUE ESTÁ NO GOOGLE LIVROS - PERMISSÃO DA AUTORA, A QUAL AGRADEÇO SENSIBILIZADO.

Opinião do Usuário - Susana Lins Ao me deparar com romance “O eclipse de Serguei”, tive a sensação de estar incluído num mundo complexo e cheio de veleidades do qual não fazia parte. Um mundo da ficção. Entretanto, com o desenrolar da trama, constatei que o mundo que se apresentava bem ali, ao alcance da mão, ao folhear das páginas, é o nosso mundo real, onde transitam diversos personagens que podem ser as pessoas com as quais convivemos: o porteiro de nosso prédio, o professor da escola de nossos filhos, a vizinha ao lado. O eclipse de Serguei é assim, apresentado, ousado, mostrando a realidade crua de nossas vidas, nas quais a violência latente campeia devagar, insinuando-se em nossos relações, atitudes, preconceitos. No entanto, esta realidade acontece de uma maneira suave, sem pressa, de tal forma, que nos cativa e remete a um cenário muito peculiar e ao mesmo tempo familiar, fazendo com que a cada página, queiramos nos inteirar ainda mais das tramas ali desenvolvidas. Há, sem dúvida, a emoção desenhada em cada fala dos personagens, em cada descrição mais apurada das situações, apresentadas por personagens complexos e simples, como nós. Uns, cheios de vida, idealismo e esperança, outros destituídos do senso de humanidade, centrados em seus sentimentos de posse ou convicções retrógradas. Todos fazem parte da cultura embasada no fundamento falso de vida moderna, da aparência e da vantagem imediata, na qual o homem tem involuído ao invés de crescer.
Assim é Serguei, um homem que acredita fielmente em seu lugar na sociedade, como homem branco, de classe média, acostumado a seguir um código padronizado, há muito registrado em sua mente. Possui uma vida medíocre, calcada nos conceitos mais primários, alicerçada na vontade imperiosa da mãe e do sentimento de solidão advindo de sua infância perdida. Dois acontecimentos parecem ter embotado a sua criatividade e a vontade de lutar por si próprio: a perda do esperado fenômeno do eclipse solar e o desaparecimento estranho do pai, um militante de esquerda.
Serguei desempenha atividades monótonas num cartório e através de uma brecha de criatividade, exerce as funções de atendente num turno da biblioteca de um museu, pois considera que aqueles documentos tem uma história para contar. Fica dividido, quando através da genealogia da noiva, Beatriz, percebe que a mesma é judia. Influenciado pelas ideias conservadoras da mãe, sempre se dedicara a pensar que sua origem fosse mais nobre do que a da maioria dos mortais. Para completar, em meio há tanta mediocridade do cartório, desfilam personagens como o funcionário puxa-saco, Anselmo, o próprio chefe, o Sr. Oliveira, do qual Serguei nutre uma admiração pelo poder que exerce e ao mesmo tempo uma certa desconfiança, o misterioso homem do café, que tem o sugestivo nome de Adolf Hitler, Dóris, a secretária que desempenha estranhas atividades e que vem a ser sua aliada, chegando a morar em sua casa, detentora de um plano fantástico para a sua liberdade e finalmente, talvez o único personagem íntegro e que possui dotes de inteligência,um negro, fato que deixa Serguei cada vez mais confuso. O clima de insatisfação e confusão vai crescendo até que ele descobre que o funcionário do cartório que se suicidou, o Gomes, era muito parecido com ele. Finalmente, se depara com a comunidade do cartório, e percebe que atrás daquele grupo bem costurado, há um líder, que pensa como ele, e por isso, considerado o “escolhido”. Para tanto, chega um momento, em que ele não vê saída, a não ser assumir o seu lado neonazista e por ironia do destino, acaba encontrando no seu caminho perturbado, um homossexual. Chegou a hora de se tornar um verdadeiro baluarte da verdade tantas vezes oprimida, a sua verdade. Torna-se um skinhead, seguindo os preceitos da mãe. Finalmente, descobre que tal como o eclipse, que se dissipara, o seu passado não passava de uma nuvem de poeira forjada, insossa, padronizada, culminando com a descoberta do verdadeiro delator das atividades clandestinas de seu pai

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Noite de autógrafos





Agradeço a todos os meus amigos pela presença na noite de autógrafos do dia 30/01/10, na Feira do Livro do Cassino, em Rio Grande, RS. Na oportunidade, lancei o romance que leva o título do blog "O eclipse de Serguei". A seguir, algumas fotos do evento.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

QUESTIONAMENTOS SOBRE O ROMANCE "O ECLIPSE DE SERGUEI"

Por que o nome do romance “O eclipse de Serguei”?


Serguei é um homem na faixa etária de 30 anos, cuja vida se resume numa luta constante entre o cotidiano medíocre e sua vida interior comandada por ações passadas. Trabalha num cartório e faz um turno numa biblioteca de um museu, mas parece não se sentir à vontade em lugar nenhum. Faz uma crítica feroz aos colegas, ao chefe, principalmente recheada de preconceitos, que embotam seus sentidos e pensamentos. O romance se chama “O eclipse de Serguei”, porque quando pequeno, tomado por uma curiosidade infantil, ele pretendia munido do maior interesse, assistir ao eclipse. Neste momento, porém, estava numa escada, observando uma aranha que colhia uma mosca em sua teia. Lá , costumava caçar os insetos e guardá-los num pote. Quando a empregada, uma mulher ignorante e perplexa com o fenômeno, corria para todos os lados acendendo velas, ele se desequilibrou e perdeu o eclipse. Neste mesmo dia, seu pai desaparecera para sempre de sua vida. Era um militante de esquerda, que fora delatado e preso. Foram duas perdas expressivas e com afirmara sua mãe, “Ele se foi com o eclipse, Serguei. Não tenha mais esperanças. Assim como você não viu o eclipse, nunca mais verá o seu pai. Nem a poeira de seus ossos!”. Resumindo: o eclipse é uma metáfora das frustrações e dos enganos que Serguei tivera na vida.


Em que momento ele se torna um skinhead?


Na verdade, Serguei sempre fora um skinhead, um neonazista, alicerçado numa ideologia que fortemente transmitida pela mãe, uma mulher que participara da marcha em repúdio ao comunismo, em 1964, enquanto o pai, ao contrário lutava contra a revolução militar que se transformaria na mais ferrenha e feroz ditadura. Serguei ficara com o conservadorismo da mãe, até porque um ódio inconsciente pelo pai, se alastrava em seu coração, por não entender o motivo de seu abandono. Para ele, o pai deveria ser um marginal, como sempre lhe fora apregoado pela mãe, pois jamais voltara à casa. Por conseguinte, transferia todo este ódio para os seres que representavam a escória tão criticada por sua mãe, em sua mocidade. Passou então a ampliar o limite de seu ódio aos negros, aos homossexuais, aos judeus, a todos que significavam o avesso dos conceitos de homens de bem, de acordo com os costumes, as crenças e a moral através da ótica que lhe fôra passada. A vida, porém, lhe pregara uma peça, pois a mulher que amava era uma judia. Com o passar do tempo, a pressão do grupo do cartório considerado inofensivo, aumentava gradualmente, forçando-o a assumir a postura de um homem “nobre”, que devia exercer a sua função de líder e tomar as atitudes que levassem ao extermínio da cultura cada vez mais libertária que se disseminava no país e no mundo. Por fim, ele fica completamente desorientado e se torna um verdadeiro skinhead, inclusive mudando a aparência.


Que personagens tem influência na vida do protagonista?

Incialmente, a mãe pela veemência das atitudes e principalmente pelas mensagens conservadoras e por outro lado, o pai, que através de sua ausência, o transformaram numa criança introvertida e num adulto demasiadamente crítico e desconfiado. Tinha consigo que sempre havia alguém desafiando-o ou querendo tomar partido de suas fraquezas. No cartório, o Sr. Oliveira, o chefe que influenciava em demasia as suas atitudes, até o momento em que passou também a desconfiar do seu interesse em transformá-lo num líder dentro do grupo. Anselmo, colega bajulador o irritava profundamente, mas não exercecia nenhuma influência aparente. Entretanto, quem mais causava desconforto em seus relacionamentos com o grupo era um estagiário, um rapaz íntegro, interessado no seu trabalho e em seus estudos, mas cuja etnia ia de encontro às idéias ultrapassadas e preconceituosas de Serguei. Por outro lado, o Gomes, um funcionário que se suicidara lhe lembrava comportamentos muito semelhantes ao seu, o que lhe deixava profundamente triste. Havia ainda, Dóris, a secretária, que sua aliada num projeto de eliminação da empregada, Zulmira, que praticamente o criara, mas que detestava por sua condição de ignorância, além da carga étnica, que não aceitava. Dóris, entretanto, fazia parte da Irmandande, o grande grupo que precisava de um “escolhido”, no caso, ele. Por isso, o traíra. Além dela, havia o funcionário do café, chamado Adolf Hitler, um homem estranho, que tinha um objetivo principal: transformar Serguei no líder da Irmandade. Todos obedeciam ao Venerável, um segredo de todos. Na sua vida pessoal e afetiva, havia Beatriz, a mulher que amava, a noiva que abandonara por descobrir através de um estudo de sua genealogia, que era de descendência judia. Ela seria a responsável pela revelação final, a descoberta que deveria guiá-lo a escolher um dos caminhos: aceitar que sua vida inteira havia sido uma farsa e retornar ao mundo real e sensato ou enveredar pelo caminho manipulado pelo grupo, transformando-se finalmente num skinhead. Ela seria, enfim, a sua salvação.


Há salvação para Serguei?

Talvez quando ele descubra, já seja tarde para decidir, entretanto, o segredos aos poucos são revelados e ele põe em cheque todo o grupo, mostrando quem é quem, suas fraquezas, mentiras, vilanias, falsidades. Enfim, mostra ao leitor que ele fora manipulado pelo grupo, mas dá o troco, transformando-se de caça em caçador e dando um exemplo de dignidade rara para um homem que perseguia outros homens,talvez tão fracos, tão frágeis e submissos quanto ele. Ou mais fortes, muito mais nobres. A mensagem se torna clara para o leitor, à medida em que se descobre os reais objetivos da Irmandade que faz parte do grupo do cartório e quem é o verdadeiro líder, o chamado Venerável. Quem sabe, em cada um de nós, existam preconceitos tão semelhantes ao de Serguei, preconceitos inconfessáveis, mas que tentamos lidar de modo a não nos comprometermos e seguir o senso comum, aquilo que é políticamente correto. Resta então uma esperança de repensarmos nossos conceitos, nossas intolerâncias com o outro, o outro tão próximo e tão semelhante. Talvez essa seja a salvação, de Serguei e nossa.



O ROMANCE O ECLIPSE DE SERGUEI ESTÁ NO GOOGLE BOOKS, NAwww.biblioteca24x7.com.br e no sitewww.amazon.com