A SEGUIR A RESENHA DO ROMANCE "O ECLIPSE DE SERGUEI", QUE ESTÁ NO GOOGLE LIVROS - PERMISSÃO DA AUTORA, A QUAL AGRADEÇO SENSIBILIZADO.
Opinião do Usuário - Susana Lins Ao me deparar com romance “O eclipse de Serguei”, tive a sensação de estar incluído num mundo complexo e cheio de veleidades do qual não fazia parte. Um mundo da ficção. Entretanto, com o desenrolar da trama, constatei que o mundo que se apresentava bem ali, ao alcance da mão, ao folhear das páginas, é o nosso mundo real, onde transitam diversos personagens que podem ser as pessoas com as quais convivemos: o porteiro de nosso prédio, o professor da escola de nossos filhos, a vizinha ao lado. O eclipse de Serguei é assim, apresentado, ousado, mostrando a realidade crua de nossas vidas, nas quais a violência latente campeia devagar, insinuando-se em nossos relações, atitudes, preconceitos. No entanto, esta realidade acontece de uma maneira suave, sem pressa, de tal forma, que nos cativa e remete a um cenário muito peculiar e ao mesmo tempo familiar, fazendo com que a cada página, queiramos nos inteirar ainda mais das tramas ali desenvolvidas. Há, sem dúvida, a emoção desenhada em cada fala dos personagens, em cada descrição mais apurada das situações, apresentadas por personagens complexos e simples, como nós. Uns, cheios de vida, idealismo e esperança, outros destituídos do senso de humanidade, centrados em seus sentimentos de posse ou convicções retrógradas. Todos fazem parte da cultura embasada no fundamento falso de vida moderna, da aparência e da vantagem imediata, na qual o homem tem involuído ao invés de crescer.
Assim é Serguei, um homem que acredita fielmente em seu lugar na sociedade, como homem branco, de classe média, acostumado a seguir um código padronizado, há muito registrado em sua mente. Possui uma vida medíocre, calcada nos conceitos mais primários, alicerçada na vontade imperiosa da mãe e do sentimento de solidão advindo de sua infância perdida. Dois acontecimentos parecem ter embotado a sua criatividade e a vontade de lutar por si próprio: a perda do esperado fenômeno do eclipse solar e o desaparecimento estranho do pai, um militante de esquerda.
Serguei desempenha atividades monótonas num cartório e através de uma brecha de criatividade, exerce as funções de atendente num turno da biblioteca de um museu, pois considera que aqueles documentos tem uma história para contar. Fica dividido, quando através da genealogia da noiva, Beatriz, percebe que a mesma é judia. Influenciado pelas ideias conservadoras da mãe, sempre se dedicara a pensar que sua origem fosse mais nobre do que a da maioria dos mortais. Para completar, em meio há tanta mediocridade do cartório, desfilam personagens como o funcionário puxa-saco, Anselmo, o próprio chefe, o Sr. Oliveira, do qual Serguei nutre uma admiração pelo poder que exerce e ao mesmo tempo uma certa desconfiança, o misterioso homem do café, que tem o sugestivo nome de Adolf Hitler, Dóris, a secretária que desempenha estranhas atividades e que vem a ser sua aliada, chegando a morar em sua casa, detentora de um plano fantástico para a sua liberdade e finalmente, talvez o único personagem íntegro e que possui dotes de inteligência,um negro, fato que deixa Serguei cada vez mais confuso. O clima de insatisfação e confusão vai crescendo até que ele descobre que o funcionário do cartório que se suicidou, o Gomes, era muito parecido com ele. Finalmente, se depara com a comunidade do cartório, e percebe que atrás daquele grupo bem costurado, há um líder, que pensa como ele, e por isso, considerado o “escolhido”. Para tanto, chega um momento, em que ele não vê saída, a não ser assumir o seu lado neonazista e por ironia do destino, acaba encontrando no seu caminho perturbado, um homossexual. Chegou a hora de se tornar um verdadeiro baluarte da verdade tantas vezes oprimida, a sua verdade. Torna-se um skinhead, seguindo os preceitos da mãe. Finalmente, descobre que tal como o eclipse, que se dissipara, o seu passado não passava de uma nuvem de poeira forjada, insossa, padronizada, culminando com a descoberta do verdadeiro delator das atividades clandestinas de seu pai
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